Kuifi Kimün: o projeto que procura promover as tecelãs mapuches
Desde 2021, 40 mulheres dos municípios chilenos de Tirúa, Cañete, Contulmo e Lumaco fazem parte da iniciativa que busca potencializar e valorizar o trabalho em tear mapuche das tecelãs.
Teresa Huaiquil, pertencente à comunidade Divulco de Lumaco, carrega o tear em suas lembranças de infância, época em que ela via como a sua mãe trabalhava a lã para formar peças têxteis. Naquela época ela morava numa “ruca” [casa indígena] com a família e ajudava a mãe a trabalhar. “Aprendi a operar o tear quando criança porque minha mãe trabalhava e eu a observava. Quando ela arrematava as beiradas de uma manta ou cobertor grande, eu tinha que estar ali a ajudando ela, tecendo o novelo de lã”, conta Teresa.
Assim, nos relatos das tecelãs mais experientes, aparece a lembrança de ter aprendido desde crianças as diferentes tarefas da arte da tecelagem no tear, sob a luz do fogão da ruca. Foi assim que, com a ajuda de avós, mães ou parentes, aprenderam a produzir diferentes peças utilitárias, como manta ou vestido, xale, faixa, cobertas, entre outras peças de vestuário. Como forma de obtenção de recursos, os tecidos também eram vendidos ou trocados por produtos de primeira necessidade nas cidades mais próximas.
Todo esse conhecimento do witral ou tear mapuche perdurou graças ao ensino das técnicas de geração em geração; e é justamente essa história em comum que é compartilhada pelas 40 mulheres de Tirúa, Cañete, Contulmo e Lumaco, agrupadas no projeto Kuifi Kimün (sabedoria ancestral). Uma iniciativa promovida pela CMPC para fomentar este ofício e valorizar o trabalho das mulheres que mantêm esta arte têxtil.
No Espaço Fibra Local, em Temuco, o presidente das Empresas CMPC, Luis Felipe Gazitúa, abriu a cerimônia de lançamento do projeto Kuifi Kimün, que acompanhará as mulheres durante quatro anos, sob a assessoria de Magdalena Le Blanc, graduada em História e Estética e especialista em arte têxtil contemporânea.
O presidente da papeleira valorizou a iniciativa e destacou que eles estão comprometidos com o projeto Kuifi Kimün. “As pessoas são muito importantes para nós e também é muito importante para nós que este projeto esteja mudando a vida das mulheres tecelãs que estão mostrando seu trabalho, sem perder a essência da sabedoria ancestral. Esse é o tipo de iniciativa que nos enche o peito, porque a gente percebe o tamanho do impacto que isso provoca, e a chegada de Kuifi Kimün ao Fibra Local é uma oportunidade de dar visibilidade a esses ofícios e valorizar esse tipo de trabalhos”.
O Prefeito de Lumaco, Richard Leonelli, por sua vez, valorizou a iniciativa que beneficia as mulheres tecelãs do seu município e comentou que “nos municípios da região da Araucanía, e especificamente em Lumaco, sabemos que atualmente o trabalho está muito escasso para a nossa população. Cerca de 800 famílias ficaram sem trabalho no nosso município, então é importantíssimo poder potencializar as capacidades de cada uma das lamngen que estão aqui participando hoje através deste projeto, obviamente isso ajuda a economia familiar”.
Driblando as diferentes fases da pandemia do Covid-19, em junho de 2021 foi dado início ao projeto Kuifi Kimün, promovido pela CMPC, para criar oportunidades de comercialização para os artigos têxteis de fibra natural com um selo de qualidade e inovação, atributos trabalhados mês a mês pela especialista em tecelagem contemporânea Magdalena Le Blanc. “Meu apoio consistiu em orientá-las no uso de matérias-primas de boa qualidade, o que é muito importante. Há muitos detalhes a implementar que são bem relevantes, na apresentação e na informação que se entrega; e também é fundamental alcançar um produto que tenha design e esteja de acordo com a demanda atual; e que serve não só para mostrar a cultura, mas também em termos utilitários”, destacou a especialista em tecelagem contemporânea.
Tecelãs do litoral e da cordilheira de Nahuelbuta
A iniciativa Kuifi Kimün também procura que as mulheres de Tirúa, Cañete, Contulmo e Lumaco trabalhem de forma associativa e entreguem produtos de qualidade, a fim de abrir novos mercados e impactar positivamente sua qualidade de vida.
A tecelã Sara Leviqueo enalteceu a iniciativa e explicou que “o projeto Kuifi Kimün é importante porque a gente nunca para de aprender, todos os dias se aprende algo novo, e especialmente no caso da tecelagem. Com esse projeto aprendi a definir algumas coisas, a fazer bons acabamentos, a me acostumar com as medidas, e isso é uma coisa que no artesanato geralmente a gente não faz, e com esse projeto a gente faz”.
Por sua vez, a tecelã Yesenia Antío garantiu que “participar deste projeto tem sido ótimo, pois estamos vendo nossa cultura, estamos fortalecendo-a a cada dia e obviamente de uma forma ou de outra financeiramente está nos ajudando muito o nosso setor. Aprendi a tecer aos dez anos, porque ajudava a minha avó, então é maravilhoso continuar com isso e que continue crescendo, que as pessoas e nosso país possam reconhecer nosso trabalho”.
O grupo desenvolveu uma série de artigos têxteis de uso contemporâneo, como tapetes, passadeiras, baixadas de cama, caminhos de mesa e echarpes. A coleção 2022 “Sabedoria Ancestral” pode ser adquirida no Espaço Fibra Local, Arturo Prat 427 em Temuco, Chile, ou através do site fibralocal.cl